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Seminário da Soja: entrevista com Estael Sias - previsões climáticas

Atualizado em 18/09/2018
Seminário da Soja: entrevista com Estael Sias - previsões climáticas

Entrevista concedida por Estael Sias a Zizi Machado, para o programa Espaço Livre da Rádio Cotrisel, sobre a sua palestra no Seminário da Soja 2018: Previsões climáticas para a safra 2018/2019.

 

Zizi: O que tu pôde trazer para os produtores dessa vez? Tem notícias otimistas com relação ao próximo ciclo? O que aguarda agora a safra 2018/2019 com relação ao clima?

Estael: A gente tem um cenário bem diferente do ano passado: esse ano o calor chega mais cedo, no ano passado o frio se estendeu até dezembro, dias ventosos, e isso não deve acontecer nesses próximos meses.

Na medida que o calor se antecipa, se antecipa também o cenário mais favorável a temporais, porque a gente vê uma probabilidade de outubro e novembro, principalmente, ter chuva acima da média. Não quer dizer que vai chover o mês inteiro, mas períodos de chuva forte, até talvez de chuva excessiva, não dá para se descartar, e temporais, o que preocupa, pois eles impactam a vida de todo mundo, não só o setor agrícola, mas também o dia a dia das pessoas – risco de granizo, vendavais, a condição para raios. Então se vê um cenário que é típico dessa época do ano, mas com mais umidade. Os prognósticos indicam umidade acima da média e temperatura acima da média: são dois ingredientes que podem intensificar essa característica da estação.

Ainda se prevê um El Niño até o final do ano. Os prognósticos, praticamente todos os modelos de clima, sinalizam para um El Niño bem diferente do que costuma acontecer, porque geralmente em julho o El Niño já está configurado, e nós estamos em setembro e isso ainda não aconteceu. Tem um aquecimento do Pacífico já há alguns meses, mas não é um aquecimento ainda no patamar de El Niño, mas isso deve acontecer agora entre outubro e novembro, então provavelmente parte do verão e também do outono de 2019 terão influência desse El Niño. Por enquanto se prevê um El Niño de fraca a moderada intensidade, nada comparado ao de 2015, que foi um super El Niño: enchentes, muita chuva, muitos prejuízos ao setor agrícola – principalmente o arroz em 2015 – então um cenário diferente do que a gente vê para os próximos meses.

O que chama atenção olhando somente o setor agrícola: uma preocupação da fase de plantio, porque a gente pode ter temporais, pode ter essa condição de chuva excessiva em alguns momentos. Então algumas lavouras, ou parte de algumas lavouras, podem sofrer um pouco com essa umidade mais persistente, com esses volumes de precipitação no período do plantio. E, depois, na colheita, pensando principalmente na soja, como o El Niño vai ser um pouco mais tardio, a influência dele vai ser entre verão e outono, pode ser que no momento da colheita também tenhamos alguns períodos de chuva que não costumam ocorrer. Dentro do ciclo, em termos de chuva para o desenvolvimento das culturas, acredito que seja positivo, mas o que preocupa é a fase de plantio e a fase de colheita, que pode ter algum excesso: no plantio muito em razão da característica da primavera, de temporais, e com a perspectiva de temperatura acima da média; e no final do verão e começo do outono, em razão do El Niño que já vai estar influenciando o clima global e o clima do Rio Grande do Sul. Então esses são os momentos que a gente vai ter que ter um pouco mais de cuidado, mais atenção, e, na previsão de curto prazo, conseguir planejar essa fase, tanto do plantio e principalmente da colheita, para diminuir o risco de perdas ou mesmo de prejuízos, pois o excesso de chuvas na colheita é bem complicado, não só a questão da colheita em si, mas do escoamento da produção, estradas com problemas. Então todo esse cenário deverá ser bem acompanhado nessas duas fases fundamentais do ciclo produtivo.

 

Zizi: Estael, e quando eu falo em El Niño, eu sempre remeto a uma situação que a gente teve. Não sei se foi particular, mas teve um ano que teve um El Niño, que até foi um ano de frustração de safra, porque justamente no período entre fevereiro e março, que é período crítico de floração da planta, e que precisa de umidade, foram 30 dias sem uma gota em pleno ano de El Niño. Isso é comum acontecer, mesmo com um fenômeno que traz excesso de chuvas para cá?

Estael: Não, não é comum. O que aconteceu em 2004/2005, na verdade, é que nós tínhamos um falso El Niño. Até foi interessante tu falar disso, porque na apresentação eu comentei que nenhum modelo, nenhum instituto internacional fala essa possibilidade do El Niño que a gente chama de “Modoki”, que é o falso El Niño que aconteceu em 2004/2005. Só que a MetSul, na nossa equipe, a gente está com o pé atrás, porque olhando o monitoramento do Pacífico são quatro regiões diferentes para saber se tem El Niño ou La Niña. Então as quatro têm que estar aquecidas, com águas mais quentes do que o normal para configurar um El Niño clássico e o que tem acontecido nos últimos meses é que uma porção mais central do Pacífico está mais quente, mas uma parte, que é a parte mais próxima da América do Sul, não esquentou ainda e é algo parecido com o que aconteceu em 2004/2005.

Tem climatologistas do mundo inteiro que monitoram essas condições e ninguém comenta a respeito disso. A MetSul é que está com o pé atrás, porque esse El Niño era para já ter se formado entre setembro e outubro, aí agora foi adiado para outubro e novembro, então está se mostrando diferente do que é o clássico, pela sua formação tardia, então a MetSul fica com o pé atrás, se de repente não acontece algo parecido com o que aconteceu em 2004/2005.

Hoje a previsão não é essa, de que a gente tem um El Niño que vai influenciar o final do verão, mas a gente chama a atenção para os produtores, para buscarem se atualizar, e a MetSul tem esse compromisso, quem trabalha na Rádio Cotrisel vai trazer essa notícia em primeira mão, qualquer sinal de que realmente haja uma repetição de 2004/2005. Mas essa é a mensagem que a gente tentou deixar bem claro hoje para os produtores é que a gente está com o pé atrás. Embora todos os institutos, todos os colegas que a gente converse falem do El Niño clássico, apesar de tardio, a gente fica com o pé atrás com essa possibilidade.

 

Zizi: Nós tivemos, recentemente, algumas chuvas mais volumosas, o que garantiu que os mananciais estivessem mais cheios e garantindo também a cultura do arroz, principalmente, para muitos produtores. Se o ano é de El Niño, água não vai faltar mesmo para essas culturas, né?

Estael: É! Provavelmente não. E aí a preocupação realmente só é o excesso na fase do plantio da soja mesmo. Mas em termos de volume de água, de precipitação, principalmente mais nessa região central, pegando esse eixo São Sepé, São Gabriel, Cachoeira do Sul, indo em direção a Santa Maria, áreas de fronteira com o Uruguai, em alguns momentos os modelos até colocam esse período também favorável, em outros já reduz um pouco a chuva, mas mais nessa faixa central aqui, acredito que em termos de manancial, de açude cheio de água, a situação deve ser tranquila.

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